
Ucrânia: a “guerra que dá para vencer
A propósito da guerra na Ucrânia, e em meio à contraofensiva que os exércitos ucranianos estão promovendo para libertar seu país do invasor, foi publicado na revista Foreign Affairs um artigo, de autoria de Gideon Rose, chamado “Ukraine’s Winnable War “ que resume as razões pelas quais os Estados Unidos (e a Europa) estão prestando toda a ajuda aos ucranianos. Para quem tem dúvidas sobre as motivações de europeus e americanos, elas ficam bem claras.
Gideon Rose, especialista em assuntos internacionais, foi membro do governo Clinton. Não é um analista imparcial, mas a explicação é transparente e, para qualquer cidadão europeu ou americano, fácil de entender.
Putin e o cassino de Kiev
Em 24 de fevereiro de 2022, Vladimir Putin ordenou uma ação militar que se previa que poderia tomar Kiev em duas semanas, ou em três dias até. Foi uma verdadeira jogada de cassino, pois Putin, mal informado sobre os dados no terreno, contou certamente com a sorte.
Por coincidência, o dia da invasão de Putin foi o dia em que a Câmara dos Deputados aprovou o PL 442/91, que prevê a liberação dos cassinos no Brasil. Mas até o momento nem os cassinos foram liberados (continua só sendo possível jogar em plataformas online como o novibet.com) nem Putin conseguiu qualquer resultado que fosse.
É claro que a Otan, com os Estados Unidos liderando, deu imenso apoio a Kiev. Mas, se você olhar do
ponto de vista dos europeus, é perfeitamente normal que isso aconteça.
Otan: uma associação de estados democráticos
Para que a democracia seja aceita, é fundamental aceitar o princípio básico de eleições livres. É necessário que exista total liberdade de associação política e que partidos e movimentos livremente constituídos possam concorrer a eleições. Existem outras condições para validar a qualidade da democracia, mas este é o básico. Um país sem eleições, ou onde só pode participar nas eleições quem for autorizado pelo poder (como acontece no Irão), não é verdadeiramente um país democrático.
A expansão da Otan para a Europa de Leste nos anos noventa é explicada como uma agressão imperialista dos Estados Unidos. Quem usa este argumento não pode considerar-se como defensor do princípio democrático que descrevemos acima. Todos esses países (Estônia, República Checa, etc.) adotaram regimes democráticos nos anos noventa e seus governos, democraticamente eleitos, pediram a adesão à Otan. Os Estados Unidos não ameaçaram nenhum desses países com guerra.
Esses países saíram de meio século (ou, em alguns casos, de vários séculos) de domínio russo e buscaram uma defesa contra uma nova agressão russa. Viu-se que eles tinham razão, como quando em 2008, a Rússia atacou a Geórgia, em 2014, quando a Rússia anexou a Crimeia, ou agora, em 2022, quanto Putin tentou terminar o trabalho e rodou a roleta, para usar nova imagem de cassino, para tentar resolver o problema de uma vez.
Muitos recursos por explorar
Ao contrário do que aconteceu no Afeganistão ou no Iraque, na Ucrânia os Estados Unidos não estão procurando impor uma forma de organização política pela força, estranha à sociedade em questão. Acontece o contrário (e a proximidade cultural entre dois países de matriz europeia favorece o fenômeno): os americanos estão auxiliando um país que está disposto a imensos sacrifícios por sua independência e pela vontade de decidir como quer viver, adotando o modelo de desenvolvimento sugerido pelo Ocidente. É por isso que a Otan está conseguindo resultados sem enviar tropas nem disparar um único tiro. Imagine: se a Otan conseguiu fazer recuar o exército russo só com tropas ucranianas, imagine o que aconteceria se os aliados enviassem suas próprias tropas?
Com a Rússia acontece o contrário: o moral para empreender uma guerra de conquista nunca foi alto, e estará baixando a cada momento. Os russos sentem que estão lutando em terra estrangeira, e não para defender suas próprias casas.
É por tudo isso que, na argumentação de Gideon Rose, a Otan tem ainda muitos recursos por explorar, e é improvável que europeus e americanos se “cansem” tão cedo do apoio a este aliado que implorou sua ajuda. Veremos quais serão os próximos passos.
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