O secretário de Justiça e Direitos Humanos do Governo de Pernambuco, Pedro Eurico, se afastou do cargo, nesta terça-feira (7), após virem à tona denúncias de agressões físicas e psicológicas feitas por sua ex-mulher, a economista aposentada Maria Eduarda Marques de Carvalho. Em entrevista à TV Globo e ao portal G1, ela afirmou que já registrou dez queixas na polícia contra o ex-marido, a última delas no mês passado, e decidiu tornar o caso público porque tem medo de morrer.
Maria Eduarda, que se relacionou com Pedro Eurico por 25 anos, afirmou que as ameaças se intensificaram nos últimos meses, o que a levou a viver num clima constante de tensão. Ele me acordava de madrugada dizendo que eu saísse de casa naquela hora porque ele tinha acabado de sonhar que me matava. Dizia que ia acontecer um acidente e ninguém ia desconfiar que era ele que tinha mandado fazer. Eu não tinha mais condições de continuar vivendo do jeito que eu estava vivendo. Achei que estava muito próxima da morte. Resolvi falar para que não apareça depois apenas a notícia: ela morreu. Tenho muita vontade de viver ainda”, declarou na entrevista.
A economista disse que prestou a primeira queixa contra Pedro há quase 22 anos, em março de 2000, porque levou uma surra do companheiro. Ela afirma ter feito mais duas denúncias em 2001 e duas em 2002. Ainda assim, segundo Maria Eduarda, as agressões se intensificaram. “Ele ia mais cedo no colégio dos meus filhos (de um relacionamento anterior dela), sequestrava meus filhos, levava para passear, ligava para mim dizendo que só devolvia quando eu ficasse com ele”, relatou à Globo. Os dois se reconciliaram e se casaram pela primeira vez em 2003, época em que a economista diz ter achado que as “coisas poderiam ser diferentes.” Mas novas queixas de agressão foram registradas em 2008 e 2010.
Maria Eduarda afirma que as agressões eram mais intensas nos dias em que Pedro Eurico “estava mais perturbado”, motivo pelo qual o casal costumava dormir em quartos separados com frequência. “Eu ia para esse quarto e me trancava. Ligava para o motorista, o segurança e dizia: ‘olhem, vocês fiquem alerta’. Várias vezes o motorista recebeu ligação minha: ‘venha para cá agora porque Pedro está surtando’”, relatou.
Ela afirmou também que ultimamente vinha sofrendo torturas psicológicas que culminaram na decisão de morar na casa da mãe, em novembro passado, após a mais recente separação. Segundo ela, Pedro Eurico mandou motoboys danificarem seu carro e um deles confessou a identidade do suposto mandante do ato de vandalismo.
Maria Eduarda afirma que avisou ao condomínio, situado em Olinda, que Pedro não tinha autorização para entrar lá, mas que, ainda assim, o secretário insistia. Em 1º de novembro, ela recebeu uma ligação do porteiro avisando que o político tinha invadido o prédio com outro homem, num momento no qual ela não estava em casa. “Foi até meu apartamento, tentou entrar, que ele tinha uma chave de baixo, mas eu coloquei uma outra chave em cima. Como ele não conseguiu entrar, ele desceu”, disse.
“Vi uma guarnição da Guarda Municipal de Olinda, parei o carro, pedi ajuda. Eles foram comigo. Eu entrei em estado de choque ali quando eu cheguei naquele apartamento”, declarou.
“É como se a morte tivesse chegado ali para mim naquele momento. Foi um dos piores momentos da minha vida. Eu pensei que eu podia estar em casa, minha mãe podia estar comigo lá, podia ter acontecido uma desgraça. Por que ele subiu?”, disse a economista, que pediu medida protetiva, concedida pela Justiça, e entrou com pedido de divórcio. Ela afirma que a medida de proteção vem sendo descumprida por Pedro Eurico.
Em nota oficial, a Polícia Civil informou que casos de medida protetiva tramitam em sigilo, de acordo com a Lei Maria da Penha. Já o Tribunal de Justiça de Pernambuco informou que não poderia falar sobre a medida protetiva por ser um processo que corre em segredo de Justiça e que não encontrou nenhum processo relacionado ao secretário e sua ex-mulher.
O governo do estado informou que o secretário-executivo de coordenação e Gestão, Eduardo Figueiredo, vai responder pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco em decorrência do pedido de afastamento de Pedro Eurico.
“QUEIXAS IMPROCEDENTES”
Em resposta, Pedro Eurico disse que as “denúncias improcedentes de agressão datam de mais de 10 anos e muitas destas foram retiradas pela suposta vítima perante a Justiça.” O secretário afirmou que ele e Maria Eduarda estiveram foram casados inicialmente, no período de 27 de setembro de 2003 a 30 de abril de abril de 2008, quando se divorciaram. “Ao longo dos últimos anos de convivência e de um novo casamento, realizado em 2012, cujo divórcio aconteceu em 8 de novembro deste ano, inexistem denúncias apresentadas pela senhora Maria Eduarda, causando estranheza o requerimento de medida protetiva justamente no período em que se discutia a possibilidade de uma dissolução consensual”, acrescentou.
“Foge à realidade a acusação de tentativa de invasão do imóvel recentemente adquirido, haja vista que fui o responsável pelo pagamento da reforma do imóvel concluída exatos três dias antes da apresentação da denúncia perante a Polícia Civil do Estado e compareci ao apartamento inabitado para verificar a conclusão dos serviços. Nesta data, fui impedido de entrar no apartamento por minha ex-esposa devido a troca das fechaduras numa patente manobra patrimonial”, destacou o político. “Lamentamos as inverdades envolvendo minha vida pessoal, e exposição na imprensa em uma sórdida trama de interesse patrimonial”, acrescentou.
Presente na política pernambucana desde os anos 1980, Pedro Eurico já foi vereador do Recife, deputado estadual, presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco e secretário estadual das pastas da Habitação e da Criança e da Juventude. Ele também é o atual presidente do Conselho Nacional de Secretários de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Administração Penitenciária.
Com informações do G1