Cotidiano Livro de autoria de adolescentes da Funase será lançado em Arcoverde

Livro de autoria de adolescentes da Funase será lançado em Arcoverde


Projeto é resultado de ação de estímulo à leitura promovida há um ano dentro de unidade de internação.

Quando pessoas em privação de liberdade têm a chance de colocar no papel o que vivem e o que sentem, o resultado, quase sempre, é um misto de desconcerto e provocação para quem lê. Palavras que dão vazão a saudades, amores, sonhos e também a revoltas, à primeira vista, parecem repletas de obviedades vindas de quem está longe da família, da liberdade e do que gostava de fazer antes da clausura. Mas também são um convite a enxergar além do que está patente. No fundo, são uma tentativa de ruptura de um ciclo de invisibilidade e um exercício de reafirmação da relevância do que se faz e do que se diz do lado de dentro dos muros.

Nas páginas de “Diário da tranca” (Mariposa Cartonera/Cartonera Castelar, 2021), escritas por adolescentes em internação na unidade da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) em Arcoverde, no Sertão de Pernambuco, o contraponto entre grades e liberdade é inevitável. Ele, de certa forma, parece mais familiar do que já foi outrora, considerando que parte da população mundial se viu com limitações temporárias para ir e vir durante a pandemia da Covid-19 e vivenciou solidão, conflitos e angústias comuns a quem está privado de liberdade.

“O que aparece no livro é a Funase do menino que não suporta mais estar ali e também a do menino que diz que é melhor estar ali do que em casa”, resume a pedagoga Jedivam Conceição, idealizadora do projeto.

A proposta de registrar o que esses adolescentes tinham a dizer surgiu como parte de uma ação de estímulo à leitura iniciada em setembro de 2020, por meio de uma parceria entre a Funase e a Vara Regional da Infância e Juventude de Arcoverde. Intitulada Clube Castelar, a iniciativa conseguiu, em um ano de atividades, chamar a atenção de outras instituições, como a Fundação Terra e a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), que já levaram oficinas artísticas e pedagógicas para dentro da Funase em Arcoverde. A participação produtiva dos socioeducandos conta pontos positivos na avaliação dos processos deles pelo Judiciário, uma tentativa de buscar resultados concretos na reinserção social desse público após o envolvimento em atos infracionais.

“Os meninos que estão em medida socioeducativa têm um potencial enorme. Eles têm diferentes trajetórias. Acredito que quem tiver contato com o livro poderá refletir sobre o próprio sistema e sobre como a sociedade pode perceber esses adolescentes, que um dia voltarão para o convívio social. E é uma obra que tem grande potencial acadêmico também. O projeto já não cabe mais nos muros da Funase. Ele pode ser feito em outras unidades da instituição e agora ganha o mundo, por meio dessa publicação”, complementa Jedivam, que é servidora da Funase, professora da Escola de Conselhos de Pernambuco, ligada à UFRPE, e organizadora do livro.

Após todo esse tempo de preparação, “Diário da tranca” chegará ao público a partir desta quarta-feira (1º), durante uma solenidade de lançamento em formato híbrido que será realizada no auditório do Centro de Ensino Superior de Arcoverde (Aesa). O evento contará com a participação de representantes da Funase, do Judiciário, do Executivo municipal e da Mariposa Cartonera, que viabilizou a publicação sem ônus para os cofres públicos em coprodução com a Cartonera Castelar, editora criada durante o projeto.

“É uma ação que nasce desse espaço de diálogo horizontal, sem condescendência nem arrogância, tratando os autores com respeito e igualdade, olhando em seus olhos e confiando em seu protagonismo, em sua capacidade de escrever não apenas os relatos, mas seu próprio destino. Nós aprendemos muito com essa vivência e esperamos aprender ainda mais”, conta Wellington de Melo, escritor, professor e editor da Mariposa Cartonera.

O socioeducando Gabriel (nome fictício), de 17 anos, foi um dos que participaram da escrita de “Diário da tranca”. Ele afirma que, além de falar da privação de liberdade, procurou deixar como mensagem um alerta para a juventude que está fora dos muros da Funase sobre a importância de trajetórias longe da criminalidade.

“Participar desse livro foi um voto de confiança que toda a equipe deu e uma oportunidade muito grande pra que a gente tivesse a chance de falar com quem não está aqui perto da gente”, avalia.

Bruno Muniz 31 ago 2021 - 8:54m

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