Destaques Exclusivo — Como a era digital facilitou a aproximação de jovens de Santa Cruz do Capibaribe com o mundo da prostituição

Exclusivo — Como a era digital facilitou a aproximação de jovens de Santa Cruz do Capibaribe com o mundo da prostituição


Blog realizou investigações ao longo de semanas em sites de relacionamentos e conversou com garotas que trocaram as máquinas de costura e os fábricos pelos celulares e hoje ‘ganham a vida’ como acompanhantes.

Nas últimas semanas o Blog do Bruno Muniz adentrou no submundo da prostituição que cada vez mais conta com os recursos da tecnologia para funcionar e fazer girar dinheiro, inclusive beneficiando sites e aplicativos que ganham porcentagem a cada novo usuário cadastrado. Nossa reportagem fez contatos com jovens que até poucos meses atrás viviam de realizar tarefas comuns do dia a dia e hoje afirmam que chegam a ganhar até R$ 1.500,00 por semana realizando programas.

O foco da nossa reportagem foi descobrir especificamente como essas pessoas lidam hoje com a prostituição. No Brasil se prostituir não é crime, mas quem tira proveito das pessoas que exercem esse tipo de atividade pode ser preso e condenado com base nas leis contra a exploração sexual. Para muitas dessas garotas, entrar no mundo dos programas começou como uma forma de adquirir algum dinheiro, logo, se tornou uma dependência.

Tentamos contato com diversas meninas no intuito que as mesmas falassem um pouco sobre a vida que levam nos sites de relacionamentos e com os respectivos programas, porém temendo serem identificadas, a maioria esmagadora se negou a falar ou dar qualquer tipo de declaração. Ao todo, apenas três jovens de 19, 22 e 26 anos aceitaram falar, porém com a mesma condição, não serem identificadas em qualquer das hipóteses.

O conteúdo/imagem de vetor trata-se de uma manipulação digital/gráfica, todavia as imagens presentes na tela do aparelho são reais e foram extraídas de um site de relacionamentos – Foto: Blog do Bruno Muniz (Reprodução)

Iremos chamá-las de ‘Aninha’, ‘Paula’ (Paulinha) e ‘Nathy’, apelidos utilizados pelas mesmas em sites de agendamentos de programas e que elas acreditam ter se tornado uma identidade no mundo digital. A primeira a falar com a nossa equipe e que inclusive convenceu as outras duas foi Aninha, uma ex-costureira de 26 anos que decidiu fazer programas quando a mãe, de 53 anos, ficou doente.

O Início

“O começo é f***, acho que ninguém entra nesse mundo porque curte, entra porque deve precisar de alguma forma. O problema é que a pessoa se torna dependente depois, é mais fácil de ganhar dinheiro e o esforço se torna menor. Quando mãe adoeceu eu fui convidada por uma amiga a fazer um programa junto com ela. O homem tinha uma fantasia de ficar com duas mulheres e ela me convenceu. Ganhei R$ 100,00”, conta.

Aninha detalha que entrou em uma crise psicológica após o primeiro programa e que isso a deixou perturbada, mas ela acabou dando continuidade aos programas por acreditar que era a forma mais rápida de conseguir o dinheiro que precisava.

“O que eu ganhava como costureira era uma ‘mixaria’, passava o dia inteiro e fazia hora extra e não dava para fechar as contas. Minha mãe precisou fazer uma cirurgia então eu decidi que iria conseguir o dinheiro. E consegui. Nos primeiros dias eu me sentia um suja, chorava, me envergonhava, mas quando acostumei fiquei de boa, pior é matar ou roubar”, detalhou.

Para a jovem, sair dos programas é um passo mais difícil do que entrar. Apesar disso, ela pensa em buscar outras alternativas para largar a prostituição e um tipo de droga que usa cujo não quis especificar qual é.

“A droga foi uma consequência, pra aguentar o que a gente aguenta certas vezes só com algum tipo de ‘coisa’. Não é pra qualquer uma, eu sempre digo isso. A gente tanto pode pegar um ‘boy’ cheiroso e bonito como pode ficar com um coroa sujo de 40, 50 anos. Faz parte”, disse com naturalidade através de um áudio enviado a nossa equipe via WhatsApp, mesmo número que utilizada para marcar os programas.

Aninha não é a única que sente dificuldades em deixar a vida dupla. Em meio período a jovem Paula, ou ‘Paulinha’ como gosta de ser chamada, trabalha em um estabelecimento comercial da cidade, mas em um dos períodos do dia e até mesmo nas noites realiza programas para como prefere dizer, “complementar a renda mensal’.

“Quando eu entrei muitas meninas estavam começando também. O aplicativo Tinder foi onde eu encontrei os primeiros ‘boys’. Eles chamava pra conversar e as vezes sem eu dizer nada perguntavam quanto era o programa. Um dia eu fiquei com um que cobrei, depois eu só fazia cobrando e comecei e procurar outros aplicativos que desse pra fazer isso. Hoje eu uso quatro”, ressalta Paula que tem apenas 19 anos.

Paula afirma que se prostituir é tratado com muita naturalidade depois de um tempo, mas que os mesmos também fazem parte das atividades diárias. A jovem ressalta que engravidar, ser infectada com uma DST e até mesmo apanhar são temores que caminham com ela.

“É complicado. Eu mesmo sou ‘pé atrás’. Eu não vou pra qualquer lugar com qualquer um, investigo sempre se a pessoa é ‘normal’. Usar camisinha é algo que sempre fiz, mas tem muito homem que pede pra fazer sem. Tenho medo, nunca fiz. Também tenho medo de apanhar, ficar com um cara que não queira pagar depois ele queira me bater. Graças a Deus nunca aconteceu”, explica.

Vida Fácil 

O conteúdo/imagem de vetor trata-se de uma manipulação digital/gráfica, todavia as imagens presentes na tela do aparelho são reais e foram extraídas de um site de relacionamentos – Foto: Blog do Bruno Muniz (Reprodução)

De acordo com Paula, ter uma vida com menos esforço está no topo da pirâmide de justificativas para continuar com a vida que leva. A jovem aponta que faz programas com valores que vão desde R$ 150,00 até R$ 300,00 e que os mesmos nunca faltam, seja o período da economia ruim ou bom.

“As vezes vejo minhas colegas reclamando da feira; que foi ruim, que foi mais ou menos. Eu não tenho essa preocupação. Pra mim é bom o tempo inteiro porque sempre tem alguém em busca de ‘dar uma’. Compro o que eu quero, vou pros lugares que quero e gosto, trabalho nos horários que quero, é assim vai…”, detalhou.

“Eu não devo nada a ninguém, a vida é minha e isso é o que importa.”

A frase acima é da Nathy, apelido da jovem de 22 anos que iniciou nos aplicativos de programas há um ano e diz que não se arrepende. A mesma justifica que procurou emprego por seis meses, porém sem sucesso, situação que a levou aos programas. Para Nathy, ser buscada em um site ou aplicativo e ter pessoas que paguem para estar com ela trata-se de uma questão de orgulho. Nathy largou a escola aos 16 anos, na sexta série.

“Oxe, eu tenho vergonha não. Não devo nada a ninguém, a vida é minha e isso é o que importa. Quem paga pra ficar comigo são eles (os clientes), se alguém deveria se envergonhar disso é as mulher deles que estão deixando a desejar, mas eu faço certinho e eles voltam toda vez”, disse em tom de orgulho.

Para Nathy muitos homens buscam algo além do prazer, seja satisfazer fantasias cujo as esposas desconhecem ou simplesmente conversar. Sim, segundo relatos da garota de programa, muitos homens a procura apenas para contar como estão suas vidas pessoais.

“É resenha, ‘pou’. As vezes o homem chega lá todo empolgado e quando a gente fica pelada ele broxa logo, daí vem contar da vida deles que tá ferrada, tem uns que até chora. Eu converso, de boa. Pagando é o que importa, não tô aqui pra julgar ninguém não (sic)”, explicou a jovem.

Nathy contou a nossa equipe que não pretende deixar a vida que leva atualmente, mas que precisou mudar de hábitos após ter sido descoberta por uma pessoa da família. A garota relatou que foi um período conturbado na família, mas que até mesmo a mãe, que hoje tem conhecimento de tudo, apoia e até a acoberta com histórias fictícias.

“Mãe é minha rainha. Quando ela soube ficou mal, mas depois entendeu numa boa. Hoje eu viajo para outros lugares para fazer os ‘esquemas’, não faço aqui, é ser besta. Aqui qualquer pode reconhecer a pessoa na rua depois. Gosto de Natal (RN), já cheguei a cobrar quinhentos reais em um programa lá e o cara pagou sorrindo”, conta orgulhosa do feito.

Faturamento alto 

O conteúdo/imagem de vetor trata-se de uma manipulação digital/gráfica, todavia as imagens presentes na tela do aparelho são reais e foram extraídas de um site de relacionamentos – Foto: Blog do Bruno Muniz (Reprodução)

Todas as garotas possuem algo em comum; acreditam que o que ganham é superior ao que ganhariam com qualquer outro tipo de atividade. Essa possibilidade também gera uma dependência que segundo elas é difícil de abrir mão.

“Já teve mês que eu ganhei R$ 6 mil trabalhando quatro dias por semana. Onde é que eu vou ganhar mais do que isso ou isso fazendo ‘modinha’ (tipo de vestimenta feminina)”, questionou Aninha.

Hábitos que preservam a identidade

Um dos pontos que surpreendeu a nossa reportagem foram as declarações de duas das garotas que afirmam usar máscaras de carnaval para atender alguns clientes que não conhecem sem serem reconhecidas pelos mesmos. Elas detalham que preservar a identidade é crucial para manter o “negócio” ativo e próspero.

“Eu passei a usar máscara depois que fiquei com um cara que eu achava que já tinha visto ele em algum lugar. Fiquei com medo de trombar com ele na rua, sei lá, principalmente por conta das tatuagens. Daí vi na internet que usar máscaras era uma alternativa. Mas não é qualquer máscara, é uma máscara sexy e só funciona se o cliente não for me buscar em algum lugar, porque aí não vou andar de máscara no meio da rua, né”, disse Nathy aos risos.

A jovem ainda ressalta que não se comporta como uma garota de programa normalmente, pois já vive com o pensamento de não expor o que faz para ganhar dinheiro.

“Eu mudei algumas coisas. Eu por exemplo não vou pra academia de tarde, sou gostosa (risos), logo vão dizer ‘olha essa nega ali deve ser p*** malhando uma hora dessa’, pois eu sei que isso existe”, encerrou em um tom mais de sério.

O perfil dos clientes

Aparentemente a mais experiente no assunto, Nathy detalha que os clientes são os mais diversos possíveis e que variam de acordo com os horários de atendimento. A garota de programa, termo que atrai para si sem problemas nem pudores, afirma que trata o que faz com responsabilidade e que só não fica com menores de idade.

“Só não pego menor porque aí é B.O, né. Mas o resto…”, disse e complementou após ser direcionada a falar mais sobre o assunto “aparece muito homem entre 30 e 40, principalmente casado – eles não dizem, mas eu vejo ou a aliança ou as marcas no dedo – tem também os coroas, até casal eu já atendi”, ressaltou a jovem que recentemente deixou a casa onde morava para ter mais liberdade com a agenda cheia de programas. Hoje ela mora em um apartamento alugado com quatro cômodos.

Restrições

Não, nenhuma. Ao ser questionada sobre o fato de haver alguma limitação para um programa não ser realizado, Nathy expões de maneira irônica que isso é apenas uma questão de dinheiro e que e se tratando dele, tudo pode ser feito.

“É tudo uma questão de conhecer o lugar, quanto tem, quanto vem, minha parte quanto dá”, respondeu a mesma com um trecho da música “Eu Sou 157” do grupo Racionais MC’s.

Aplicativos

‘Fatal Model’ e ‘Viva Local’ são os principais aplicativos utilizados pelas entrevistadas. As mesmas garantem que os sites fazem sempre uma seleção detalhada do perfil dos clientes e isso evita problemas. A imagem do rosto de muitas é preservada nesse tipo de plataforma digital, mas algumas delas optam por não esconder suas respectivas identidades pois afirmam que isso ajuda a atrair novos clientes.

Ao final da entrevista todas as garotas foram questionadas sobre a presença da internet como facilitadora da aproximação das mesmas com a prostituição e se elas estariam na atividade caso os aplicativos não dessem esse suporte. As respostas foram quase que unanimes, confira abaixo:

— “Eu entrei a convite de uma amiga, mas quem me ajudou mesmo foram os aplicativos pois com eles foi mais cômodo me aproximar das pessoas e escolher como e onde tudo iria ser feito. Eu acho que ajudam nessas paradas”, respondeu Aninha.

— “Eu digo que a internet ajuda porque tem homem que não tem coragem de chegar e procurar uma mulher, pela internet eles pesquisam e já fica tudo acertado e sem estresse”, respondeu Paula.

— “Garanto que eu teria entrado de um jeito ou de outro. A internet ajuda mas a ‘nega’ tem que ter coragem para encarar as ‘bocadas’. Se você não se garante num tem site que lhe ajude não”, enfatizou Nathy.

Reportagem

Esta reportagem é de total responsabilidade do Blog do Bruno Muniz e não teve como objetivo julgar o proceder das personagens envolvidas, mas mostrar o que acontece e como essas garotas enxergam a vida que levam. As falas de todas as envolvidas foram preservadas na íntegra e apenas detalhes técnicos que pudessem identificar as mesmas de alguma forma foram removidas deste editorial.

A nossa reportagem em momento algum questionou as garotas sobre a identidade dos clientes que as mesmas atendem, tendo em vista que isso é informação de propriedade pessoal/particular. Se você possui alguma dúvida ou deseja nos enviar sugestões de reportagens ou denuncias, faça isso através do contato@blogdobrunomuniz.com.br.

Bruno Muniz 06 dez 2018 - 1:24m

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